Taichi Ohno, da empresa Toyota no Japão, criador do Sistema Toyota de Produção (TPS), dentre outras práticas, atribuiu aos trabalhadores tarefas de housekeeping que posteriormente originou o Programa 5s. Ohno afirmava que os desperdícios devem ser combatidos e mitigados sistematicamente, pois são sinônimos de falta de qualidade e de produtividade.
A interpretação do que é desperdício é caracterizada por sete abordagens distintas:
- Produzir além do necessário;
- Bens/serviços em fila em espera;
- Transporte demasiado;
- Movimentos além do necessário;
- Problemas e definição dos bens ou serviços;
- Produção com defeitos;
- Estoques além do necessário.
As menores células em uma organização são as pessoas, e que elas oferecem contribuições fundamentais à mesma, organizando as suas atividades e seus locais de trabalho.
Por se tratar de uma ferramenta que envolve a participação efetiva de todo o contingente da organização é importante que o mesmo seja iniciado pela alta administração.
Paladini (1999) sugere aplicá-la no início de um programa de grande porte para a produção da qualidade nas organizações.
O programa começa com o treinamento e a conscientização das pessoas sobre a sua importância e somente então incentiva a motivação e o comprometimento na adoção da metodologia.
Estabelece-se um dia no calendário da empresa para a realização do evento comumente chamado de Dia D, Dia da Grande Faxina, Dia do Mutirão, Dia do Sol etc. e todos são convocados a participar do evento.
A definição de cada um dos passos dos 5s será apresentada como um sistema, caracterizando os dados de entrada (inputs), os dados de saída (outputs), a função, e a retroalimentação (feedbacks).
A implantação da metodologia é feita em caráter sequencial, ou seja, somente com a realização do primeiro passo é que o segundo passo será dado e assim sucessivamente.
São cinco os passos que caracterizam a metodologia 5s conforme Taichi Ohno, já citado:
- 1°s – Seiri: Senso de Utilização;
- 2°s – Seiton: Senso de Ordenação;
- 3°s – Seiso: Senso de Limpeza;
- 4°s – Seiketsu: Senso de Padronização;
- 5°s – Shitsuke: Senso de Disciplina.
1. Senso de utilização (1°s – SEIRI)
Separar o que é útil daquilo que não é mais utilizável (que deverá ser reaproveitado em outro local, reciclado ou doado).
A função deste passo é estimular a organização para que os setores ou áreas armazenem somente aquilo que é necessário no desempenho de suas funções.
Todo o material considerado desnecessário (descartado) será disponibilizado conforme a tabela abaixo.
Um material descartado não é necessariamente considerado lixo, ele pode ser talvez considerado necessário por outro setor/área da organização.
Material desnecessário | O que fazer? |
Material útil para outra área | Transferir para a área interessada |
Material de interesse dos empregados | Venda ou leilão, conforme a política da empresa |
Material inútil para a empresa ou para os funcionários | Refugar o material |
Por se tratar do ativo da empresa, é importante o controle efetivo dos itens sendo descartados para evitar desvios equivocados, ou por improbidade administrativa. Todos os itens são etiquetados com a aprovação dos responsáveis pela área e uma segunda via anexada à planilha de controle de itens descartados.
Este processo tem como feedback a pesagem de todos os itens considerados descartados pelas áreas, para que os colaboradores tenham uma ideia da quantidade de material inútil sendo descartada dos setores da organização. Esta informação contribui para a motivação dos colaboradores na repetição futura do mesmo evento. Todo o material inservível será descartado da forma mais apropriada pela empresa (sucata de ferro, material reciclável, lixo, etc.).
O processo de Senso de Utilização gera, como dados de saída (outputs), os seguintes resultados:
- Aumento dos espaços pela retirada de itens desnecessários dos setores;
- Redução de acidentes pela liberação dos espaços (corredores, empilhamentos mais seguros);
- Redução da contaminação pela eliminação de focos de insetos, roedores, pragas etc.;
- Melhora a qualidade de vida, pela melhoria da higiene do local.
2. Senso de ordenação (2°s – SEITON)
Este processo tem como função identificar todos os itens de um setor e definir um endereço para cada um destes itens.
Após a identificação de todos os itens procura-se alocá-los em seu endereço, conforme a tabela abaixo.
Itens | Endereço |
Material utilizado frequentemente | Mantê-los próximos ao posto de trabalho |
Material utilizado com certa frequência | Mantê-los próximos, mas não necessariamente no posto de trabalho |
Material raramente utilizado | Podem se localizar mais distantes, em local apropriado |
O processo de ordenação se vale de elementos visuais como:
- Identificação de departamentos;
- Identificação de áreas;
- Identificação de equipamentos e máquinas;
- Identificação de materiais;
- Delimitação de pisos.
Alguns aspectos observados pelo senso de ordenação são: sinalização de áreas; sinalização de segurança; e identificação de materiais.
Os dados de saída (outputs) deste processo são representados por:
- Redução do tempo na busca dos itens;
- Redução de acidentes pela identificação das áreas de risco;
- Delimitação das áreas de circulação de máquinas e pessoas é claramente definida;
- Redução de estoques;
- Aumento do valor agregado nas atividades.
Neste processo o lema é um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar.
3. Senso de limpeza (3°s – SEISO)
A função deste processo é mais do que a tarefa de limpar os setores, é criar mecanismos para eliminar as fontes de sujeira.
Em algumas empresas o uso de luvas brancas tem o objetivo de controlar ou evidenciar o controle de contaminação. Para tanto se utiliza de ferramentas como o ciclo de melhoria contínua, PDCA, para reduzir sistematicamente as fontes de contaminação.
Alguns aspectos abordados na aplicação do senso de limpeza: manter tudo sempre limpo, usar luvas brancas, eliminar vazamentos, etc. Limpar e manter limpos os ambientes em que vivemos: casa, escola, trabalho e áreas públicas.
Este processo apresenta como dados de saída (outputs) os seguintes resultados:
- Ambiente mais sadio;
- Eliminação de condições inseguras causadas por contaminação (pisos, máquinas e equipamentos oleosos);
- Redução de desperdícios com água e lubrificantes.
4. Senso de padronização (4°s – SEIKTSU)
A função do processo de padronização é perpetuar todas as ações definidas nos processos anteriores garantindo o desenvolvimento da metodologia. Padronizar para otimizar os processos.
Segundo Deming “não existe controle sem padronização”. O processo de padronização é caracterizado pelo largo uso de controles visuais, como:
- Através de código de cores para identificar quantidades disponíveis de peças (Kanban) em armários, pallets, prateleiras etc.;
- Em faixas de trabalho em equipamentos como a cor verde para faixa aceitável, a amarela para atenção e a vermelha para faixa perigosa de trabalho;
- Controle de abertura de válvulas e registros;
- Janelas de inspeção para facilitar a inspeção de pontos de difícil acesso visual para controle. São aplicados em partes móveis, como correias, engrenagens polias etc.
Para os planos de limpeza são definidas folhas de verificação (check lists) preparadas pelos próprios colaboradores.
Este processo tem como dados de saída (outputs) os seguintes resultados:
- Os colaboradores desenvolvem o sentimento de zelo pelos equipamentos sob sua responsabilidade;
- Desperta o contínuo melhoramento dos padrões de identificação, de segurança e de asseio, através da criatividade das pessoas;
- Menor índice de quebra dos equipamentos;
- Máquinas e equipamentos são mais facilmente monitorados pela apresentação visual mais amigável para inspeção.
5. Senso da autodisciplina (5°s – SHITSUKE)
A função deste processo é a conscientização por parte dos colaboradores de fazer a aplicar sistematicamente a metodologia para a melhoria do setor, do ambiente e das condições de trabalho.
Procura-se tirar fotografias antes e depois do evento de todos os setores mostrando aos colaboradores as evidencias visíveis obtidas pela aplicação da metodologia.
Também é interessante monitorar a continuidade da aplicação da metodologia fazendo-se auditorias frequentes em cada área para observar a motivação e comprometimento com o programa.
No processo de autodisciplina o lema é promover a autodisciplina e o contínuo melhoramento pela sistematização da metodologia.
Referências:
Apostila da Unidade de Aprendizagem – UA 16 (Metodologia 5s) da disciplina “Organização, Sistemas e Métodos” do 3º semestre do curso de Gestão Empresarial da FATEC, 2018.
FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L. Aprendizagem e Inovação Organizacional. São Paulo: Atlas, 1999.
OLIVEIRA, D. P. R. Sistemas, Organização e Métodos: uma abordagem gerencial. São Paulo: Atlas, 2006.
PALADINI, E. P. Gestão da qualidade. São Paulo: Atlas, 1999.
PRADO, R. G. 5s inteligente – A Revolução dos 100 dias. São Paulo; Virgo, 2000.
SILVA, J. 5s: o ambiente da qualidade. Belo Horizonte: Fundação Ottoni, 1997.